DVD apresenta a participação do compositor no programa Ensaio, dirigido por Fernando Faro em 1972, para a TV Cultura Sinônimo de samba paulista, Adoniran Barbosa está para o estilo como Luiz Gonzaga para o baião ou Pixinguinha para o choro. Sua identificação com a cidade é tanta que não nos dá a impressão de que clássicos como "Trem das onze" e "Saudosa maloca" dizem tanto sobre São Paulo quanto as canções de Dorival Caymmi sobre a Bahia, as de Tom Jobim sobre o Rio ou as de Milton Nascimento sobre Minas. O DVD com a participação de Adoniran Barbosa no programa Ensaio - dirigido por Fernando Faro - dá continuidade à parceria da Biscoito Fino com a TV Cultura, iniciada com o lançamento do DVD de Nara Leão, do mesmo programa. Gravado e exibido em 1972, mostra Adoniran à vontade como se estivesse numa cantina do Bixiga, contando suas histórias como quem saboreia uma brachola, destrinchando cada canção a seu estilo, a voz rouca curtida em longas baforadas de cigarro. Adoniran (pseudônimo de João Rubinato, 1910-1982) compôs a crônica sonora do Brás, do Bixiga, da Mooca, de Jaçanã, da Vila Esperança, dos morros do Piolho e da Casa Verde, da colônia italiana espalhada pela megalópole. Ressalta com bom-humor o cotidiano dos personagens da cidade, sobretudo os mais pobres, e aproveita para zombar docemente do vernáculo. Ernesto é Arnesto; nós fomos é nós fumo; raiva é reiva; tiro ao alvo é tiro ao álvaro e por aí vai. Cada táubua de sua verve é esculpida com ironia e encantamento. Um dos aspectos da personalidade de Adoniran fica evidente na seqüência em que, em plena gravação, ele reclama de volta a caneta que emprestara à produção. Ou quando ele comenta que, ao voltar para casa depois de ver seu samba derrotado na disputa de um festival, encontra sua mulher chorando, não pela perda do prêmio, mas pelo sumiço da cachorrinha. O programa reúne 20 números musicais. Os standards de Adoniran comparecem devidamente: "Saudosa maloca", "Samba do Arnesto", "As mariposas", "Prova de carinho", "Acende o candeeiro", "Despejo na favela", "Trem das onze". Há raridades da lavra de Rubinato, com ou sem parceiros ("Joga a chave", "Dondoca", "Senta senta") e composições de outros autores: os ídolos Noel Rosa ("Filosofia", samba que o jovem aspirante à carreira artística defendeu em um programa de calouros até ser inexoravelmente gongado), Alvarenga, Ranchinho e Herivelto Martins ("Seu condutor"). Uma das preciosidades é "Mãe eu juro", creditada à dupla Peteleco e Marques Filho, pseudônimos de Adoniran e Noite Ilustrada, respectivamente. O ex-balconista, metalúrgico, encanador e mascate, que entrou para o rádio num misto de perseverança e teimosia ("nasci querendo fazer samba" - diz), aparece em cena como um homem de hábitos comoventemente singelos - e verve impagável. A mais perfeita tradução da cidade de São Paulo (antes de Rita Lee...) encontra ressonância nas palavras do maestro Julio Medaglia: "Dostoievski dizia que a melhor maneira de ser universal é narrar bem a sua aldeia. E ninguém melhor que Adoniran narrou a aldeia paulista". 01. Saudosa Maloca 02. Filosofia 03. Malvina 04. Joga a Chave 05. Por Onde Andará Maria 06. Mãe Eu Juro 07. Samba do Arnesto 08. Conselho de Mulher 09. As Mariposas 10. Um Samba no Bixiga 11. Abrigo de Vagabundos 12. Prova de Carinho 13. Vila Esperança 14. Mulher, Patrão e Cachaça 15. Despejo na Favela 16. Acende o Candieiro 17. Dondoca 18. Senta Senta / Seu Condutor 19. Trem das Onze